Children of the Nameless - Capítulo 4 | Magic

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Publicado em 23/12/2018
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Capítulo 4: Davriel


Davriel Cane — O Homem da Mansão — estava ficando muito cansado de pessoas tentando matá-lo.

Qual era o sentido em mudar-se para um remanso tão longínquo se as pessoas continuariam a te incomodar de toda maneira? Davriel havia tornado extremamente difícil chegar a ele, mas esses tipos que se arvoram em arautos da justiça pareciam considerar tal fato um desafio extra.

Você não terá essas preocupações depois que fizer uso de mim, disse a Entidade no fundo da mente de Davriel. Ela tinha uma voz sedosa e convidativa. Assim que estivermos confiantes em nosso poder, nenhum aventureiro simplório sequer pensará em nos desafiar.

Davriel ignorou a voz. Conversar com a Entitade era raramente produtivo. Desde que ela curasse as suas feridas, Davriel não dava importância às promessas que sussurrava.

Ele se acomodou em seu assento quando Crunchgnar chegou. A criatura alta e chifruda seria — para uma pessoa normal — “um demônio”. Este, obviamente, era um termo muito grosseiro. Os diabolistas peritos sabiam que os demônios pertenciam a diversas cepas — e seria um erro empregar o termo “raça” ou “linhagem” para demônios, visto que eles são normalmente criados já totalmente formados por meios mágicos, em vez de nascerem.

Crunchgnar, por exemplo, era um demônio Hartmurt: um tipo de demônio alto e musculoso, sem cabelos, com feições inumanas e chifres que varriam a cabeça quase como uma crina. Uma rara cepa sem asas, os Hartmurts são resistentes, se curam rapidamente e tendem a ser combatentes habilidosos. De fato, Crunchgnar usava couro de guerreiro e tinha um par de espadas cruéis amarradas à cintura.

O demônio era burro como uma porta. Felizmente, ele também era robusto. Seguindo algumas instruções de Miss Highwater, Crunchgnar espremeu-se para dentro do banheiro e pegou a garotinha assassina, carregando-a então para o quarto. Ele pegou a viola de suas costas e a colocou na cadeira de frente para Davriel. O demônio franziu a testa quando a forma rígida e congelada da garota não estava de acordo com o assento.

Miss Highwater estava correta. Esta menina era diferente dos outros pretendentes a heróis que vinham matar Davriel. Ela era tão jovem. Catorze, quinze anos no máximo. Teria a igreja ficado sem adultos fisicamente capazes para enviar à morte?

Em vez do habitual equipamento composto por armas pontiagudas e muitas fivelas, a criança vestia roupas de camponês — esfarrapada, ensanguentada, pálida. Ela parecia meio morta de fome, com círculos escuros profundos sob os olhos.

Miss Highwater aproximou-se dele, levantando uma sobrancelha, enquanto Crunchgnar tentava forçar a menina a sentar-se — o que o feitiço de aprisionamento de Davriel ainda impedia. O demônio então grunhiu para si mesmo, fazendo o melhor que podia para amarrá-la no assento.

Davriel bateu palmas, invocando um pequeno diabo de pele vermelha da sala de serviço. Ele veio trotando, carregando uma bandeja grande demais para si, precariamente arranjada com uma garrafa de Glurzer, uma safra local. O vinho docemente aromático fez cócegas no nariz de Davriel quando ele se serviu de uma taça.

A criatura tagarelou com ele na língua recortada dos diabos locais.

“Não.” disse Davriel em resposta, sorvendo o vinho. “Ainda não.”

A criatura rosnou em aborrecimento, depois ergueu uma taça bem menor, que Davriel encheu de vinho. O diabo cambaleou, carregando a bandeja enquanto tentava beber seu vinho. É melhor que ele não derrame aquele Glurzer. Os diabos eram servos terríveis, mas cada um faz o que pode com aquilo que possui. Pelo menos, eles eram baratos e fáceis de enganar.

Você terá muito mais, sussurrou a Entidade no fundo de sua mente. Basta você aproveitar.

Crunchgnar finalmente recuou, cruzando os braços enormes. “Pronto. Está feito.” Ele amarrou a garota pela cintura, pés e pescoço à cadeira — embora ela ainda estivesse rígida como um tábua, acomodada inclinada na cadeira.

“Bom o bastante”, disse Davriel. “Porém, você provavelmente deveria permanecer aqui quando eu soltá-la do aprisionamento, só por garantia.”

“Você tem medo de uma coisa tão pequena?” Crunchgnar rosnou.

“Pequenas coisas podem ser muito perigosas também, Crunchgnar”, disse Davriel. “Uma faca, por exemplo.”

“Ou o seu cérebro, Crunchgnar,” observou Miss Highwater.

Crunchgnar cruzou os braços, olhando para ela. “Você acha que me insulta. Mas eu sei que, no fundo, você realmente me teme.”

“Oh, acredite, Crunchgnar,” disse ela. “Você vai descobrir que não há nada que eu tema mais que a estupidez.”

Ele avançou, seus pés batendo ruidosamente no chão. Ele se aproximou de Miss Highwater, pairando sobre ela. “Eu vou destruir você assim que me apossar da alma dele. Você está se tornando fraca e preguiçosa que nem ele. Livros-razão e cifras? Bah! Quando foi a última vez que você se apoderou da alma de um homem?”

“Eu tentei me apoderar da sua na outra noite,” retrucou ela, “mas encontrei apenas a alma de um rato, o que eu deveria ter previsto, considerando…”

“Já chega,” disse Davriel. “Os dois.”

Eles trocaram olhares, mas pararam. Davriel entrelaçou os dedos das mãos diante de si, estudando a menina camponesa. Ela havia parado de cantar, mas aquela música… Ela tinha uma força estranha, um poder que ele não esperava. Terá sido aquilo o toque do Pântano sobre ela? Ela era, sem dúvida, dos Acessos, provavelmente Verlasen.

Ele cancelou o feitiço de aprisionamento. A jovem imediatamente relaxou em seu assento, ofegando. Então, ela envolveu seus braços em volta de si mesma e estremeceu, como se estivesse com frio — feitiços de aprisionamento costumavam ter esse efeito. Seus longos cabelos castanhos cobriam muito de seu rosto quando ela olhou para ele. As cordas de Crunchgnar, agora frouxas, não tinham muita utilidade. Eles amarraram seus pés à cadeira, mas não a impediram de mover os braços ou a cabeça.

“Termine com isso de uma vez, monstro,” sibilou a menina para ele. “Não brinque comigo. Mate-me.”

“Você tem alguma preferência?” disse Davriel. “Machadada no pescoço? Cozida nos fornos? Diabos foram sugeridos, mas preocupa-me que você seja muito magra para nutri-los adequadamente.”

“Você zomba de mim.”

“Estou apenas frustrado,” disse ele, levantando-se da cadeira para começar a andar. “O que há de errado com vocês aldeões? A vida de vocês não é terrível o suficiente com esses espíritos, feras e tudo o mais que existe nas florestas? Vocês têm que vir aqui e incitar a minha ira também?”

A garota se encolheu na cadeira.

“Tudo o que eu quero”, disse Davriel, “é ficar em paz. Vocês só precisam fazer o trabalho de vocês! Garantir a minha provisão de chá.”

“E camisas,” disse Miss Highwater, conferindo seu livro-razão, “e comida. E impostos ocasionais. E móveis. E tapetes.”

“E, bem, sim”, disse Davriel. “Algumas poucas oferendas, condizentes com a minha posição. Mas não é tão ruim. Uma relação igualmente benéfica para todos os envolvidos. Eu recebo um lugar tranquilo e isolado para tocar a minha vida. Vocês ganham um senhor que não bebe o sangue de vocês ou se deleita com a carne de virgens a cada lua cheia.

Pensei que, em Innistrad, ter um senhor que ignora vocês a maior parte do tempo seria uma novidade!”

“E o que foi que a Aldeia de Verlasen fez para ofendê-lo?” sussurrou a menina. “Suas meias foram feitas muito apertadas? Alguma de suas maçãs estava bichada? Que ofensa insignificante o levou a finalmente nos notar?”

“Bah,” disse Davriel, entre um passo e outro. “Não me importo com vocês. Porém, vocês continuam a enviar esses caçadores para virem me atacar! Foram quantos nas últimas duas semanas, Miss Highwater? Quatro?”

“Quatro grupos,” disse ela, virando uma página do livro-razão. “Com uma média de três cátaros ou caçadores em cada um.”

“Pulando para fora da minha adega,” disse Davriel, acenando aborrecido, “ou arrombando a porta da frente. Aqueles gêmeos com os tridentes quebraram minha janela da sala de jantar — aquela feita de vitrais antigos. Alguém continua falando de mim para eles e, por isso, eles continuam vindo para me matar. Isso está se tornando extremamente inconveniente. O que mais posso fazer para vocês, aldeões, calarem a boca?”

“Isso não deveria ser um problema,” sussurrou a garota, “agora que você assassinou todos nós.”

“Sim, bem, isso não é …” Ele interrompeu a fala, parando no lugar em que estava. “Espere. ‘Assassinou todos nós’?”

“Por que fingir ignorância?” disse a menina. “Todos sabemos o que você fez. Você foi visto quando levou meus pais de sua carroça há dez dias. Então seus geists pegaram aqueles mercadores e outros que se aproximaram demais do limite da aldeia. Minha irmã dois dias atrás. E então, hoje…”

Ela fechou os olhos.

“Estão todos mortos”, ela sussurrou. “Todos menos eu. Mortos e frios, com olhos de mármore. Eu segurei a minha irmã depois que eles a encontraram e ela estava… flácida. Como um saco de grãos do celeiro. Ela estava treinando para tornar-se sacerdotisa, mas morreu como os demais. O Pântano receberá os corpos do meu povo, mas não irá banquetear-se, pois suas almas se foram. Levadas, como o calor roubado diretamente do fogo, deixando apenas cinzas.”

Davriel olhou na direção de Miss Highwater, que inclinou a cabeça.

“Todos,” disse Miss Highwater. “Todos da Aldeia de Verlasen?”

A garota assentiu.

“Verlasen?” perguntou Davriel. “É aquela onde…”

“Você obtém o seu chá de pó de salgueiro?” perguntou Miss Highwater. “Sim.”

Maldição. O chá, um leve sedativo, era o seu favorito. Ele precisava dele para dormir nos dias em que suas lembranças ficavam pesadas demais para ele.

“É lá que os alfaiates de camisas vivem,” disse Miss Highwater. “Viviam. Creio que nós antecipamos esse problema, então.”

“Todos os aldeões?”disse Davriel, virando-se para a garota. “Todos eles?”

Ela assentiu.

“Fogos do inferno!” disse ele. “Você sabe quanto tempo leva para substituir essas coisas? Pelo menos dezesseis anos até tornarem-se produtivos!”

“Você tem mais duas aldeias,” observou Miss Highwater. “Suponho que poderia ser pior.”

“Verlasen era a minha favorita.”

“Você não seria capaz de diferenciar uma da outra nem mesmo se a sua vida dependesse disso. Mas isso terá um forte impacto em seus rendimentos e no registros de lucros e perdas da próxima estação.” Ele fez uma anotação. “Além disso, estamos sem chá.”

“Desastre,” disse Davriel, caindo para trás em sua cadeira. “Já se passaram dez dias desde a primeira dessas mortes?”

Ela balançou a cabeça lentamente, assentindo. “Meus pais. Você os conhecia; eles fizeram as suas camisas. Mas… Você já sabe sobre as suas mortes. Você os matou.”

“Claro que não,” disse ele. “Assassinar aldeões? Eu próprio? Isso soa como uma enorme quantidade de trabalho. Eu tenho pessoas — bem, seres que são vagamente moldados como pessoas — para fazer esse tipo de coisa para mim.”

Davriel esfregou a testa. Não é de admirar que os caçadores estivessem o incomodando tanto ultimamente. Nada atraía candidatos a herói mais do que notícias de um lorde misterioso abusando de seus camponeses.

Fogos do inferno! Ele deveria ter sido capaz de ocultar-se na obscuridade [aqui]. Ele havia se mudado para [aqui] anos atrás, finalmente estabelecendo-se nos Acessos, o local mais remoto em um plano igualmente remoto. [Aqui], consorciar com demônios era apenas uma pequena excentricidade.

Assim pensava ele. E se… e se as notícias se espalhassem para os ouvidos errados? Os que escutam histórias sobre um homem com a sua descrição, um homem que poderia roubar feitiços das mentes dos outros?

O tempo está se esgotando, disse a Entidade no fundo de sua mente. Eles irão te encontrar. E eles irão te destruir. Precisamos reunir nosso poder e nos prepararmos.

Ficarei bem, respondeu Davriel, pensando diretamente na Entidade. Eu não preciso de você.

Mentira, ela respondeu. Eu posso ler seus pensamentos. Você sabe que um dia precisará de mim novamente.

Por um instante, Davriel sentiu cheiro de fumaça. Ouviu gritos. Por um instante, ele estava de pé diante de multidões encolhidas e era adorado.

Essas memórias eram, de alguma forma, mais reais do que deveriam ser. A Entidade conseguia brincar com seus sentidos, mas ele afirmou sua determinação e afastou o seu toque, banindo as sensações.

“Miss Highwater,” disse ele.

“Sim?”

“Ainda temos a alma daquele cavaleiro que me atacou há alguns dias? Aquele de quem roubei o vínculo que utilizei para aprisionar a garota?”

“Você prometeu dar a alma do cavaleiro aos diabos,” disse ela, virando algumas páginas em seu livro-razão. “Se eles fossem bonzinhos”

“Eles foram bonzinhos?”

“Eles são diabos. Claro que não foram bonzinhos.”

“Certo. Busque a alma para mim. Ah, e uma cabeça, se tivermos uma por aí.

Continua (…)

Agradecendo muito ao pessoal da mythologica, quem está fazendo esse trabalho impressionante de tradução!!

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