Children of the Nameless - Capítulo 3 | Magic

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Publicado em 20/12/2018
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Capítulo 3: Tacenda


O Homem da Mansão havia chegado dois anos atrás, logo depois que Tacenda descobriu a Canção de Proteção. Ele havia imediatamente removido o antigo governante dos Acessos — uma criatura conhecida como Lorde Vaast. Ninguém derramou lágrimas pela aparente morte de Vaast. Com frequência, ele tomava muito sangue das jovens mulheres que visitava à noite.

Pelo menos ele nunca tirou a vida de uma aldeia inteira em um único dia.

Tacenda agachou-se dentro do perímetro do terreno da mansão, olhando para o imponente edifício. Uma luz muito vermelha brilhava das janelas. O Homem da Mansão era conhecido por consorciar com demônios; de fato, a estrada de acesso pela frente era alinhada por estátuas aladas que — enquanto ela observada suas formas sombreadas — ocasionalmente se contorciam.

Ela agarrou o furador de gelo, sua viola estava amarrada às suas costas. A parte de trás do prédio teria uma entrada para os criados; seu pai falou sobre ter entregado camisas ali.

Sentindo-se exposta, Tacenda deixou a floresta e atravessou o gramado. O luar parecia pomposo e brilhante. Será que o sol podia mesmo ser mais brilhante que ele? Ela alcançou o lado da mansão, seu coração trovejando em seu peito, o furador de gelo segurado como um punhal. Ela encostou-se na parede de madeira, depois avançou rumo ao sul. Um brilho veio daquela direção. E isso seriam… vozes?

Ela chegou aos fundos do edifício, depois olhou em volta, avistando uma porta aberta. A entrada dos criados, derramando luz ao longo do gramado em um retângulo. Ela não conseguia respirar — um grupo de pequenas criaturas de pele vermelha tagarelava ali, do lado de fora da porta. Da altura de sua cintura, os disformes demônios possuíam longas caudas e não usavam roupas. Eles cavavam em um barril de maçãs podres, atirando as frutas uns nos outros.

Aquelas maçãs… seriam da colheita do pomar do mês passado, enviadas ao Homem da Mansão conforme ordenado. Os aldeões tinham fornecido a ele as melhores frutas, mas — a julgar pelo quanto o barril estava cheio — os frutos haviam sido deixados para apodrecer.

Tacenda recuou, escondendo-se, respirando rapidamente, sua mão tremendo. Ela fechou firmemente os olhos e ouviu as criaturas tagarelando em sua linguagem gutural e distorcida. Ela costumava escutar sons terríveis saindo da floresta, mas ver tais criaturas diretamente era outra coisa.

Ela forçou a se mover, tentando abrir algumas janelas ao longo da parede. Infelizmente, todas estavam trancadas e quebrar uma delas chamaria atenção. Restavam os portões da frente ou a porta com as criaturas nos fundos.

Ela rastejou de volta para o canto e se forçou a olhar para aquelas coisas novamente. Os quatro brigavam por uma maçã mais ou menos inteira. Tacenda respirou fundo.

E cantou.

A Canção de Proteção. Ela a manteve suave, apenas um calmo canto em voz baixa — embora sua viola de gamba tenha respondido à música, vibrando como costumava acontecer caso ela não começasse a tocá-la enquanto cantava.

A música fez o calor subir dentro dela, paixão e dor juntos. A música surgia mais através dela do que para fora dela. Esta noite, a canção parecia particularmente vibrante. Viva. Mais do que ela estava.

Os demônios congelaram e seus olhos negros arregalaram como se estivessem ofuscados. Eles se inclinaram para trás com os lábios entreabertos, expondo dentes bastante afiados. Então, afortunadamente, eles se afastaram guinchando baixinho buscando a floresta.

A canção queria crescer, queria explodir mais alto de dentro dela. Tacenda a cortou em vez disso, depois expirou, ofegando baixinho. A música a fez sentir. A retirou das águas, encharcada e fria e, de alguma forma, soprou vida para dentro dela. Mas como ela poderia sentir alguma coisa, exceto raiva e tristeza?

Concentre-se na tarefa a ser feita. Com o furador de gelo empunhado diante dela, ela deslizou através das portas dos fundos da mansão e entrou em um corredor que parecia muito acolhedor, com seu tapete grosso e o ornamentado acabamento em madeira. Esta era a casa de um monstro. Ela não confiou em sua fachada amigável mais do que confiaria em uma garotinha encontrada no meio da floresta, sorrindo e prometendo tesouros.

Passos fizeram o assoalho ranger em uma sala próxima. Certa de que algum horror iria aparecer e agarrá-la, Tacenda subiu os degraus da escada próxima rumo ao segundo andar. De fato, logo depois que ela se acalmou, alguma coisa com pele cinza escura passou pelo corredor. Os enormes chifres da criatura escovavam o teto e seus passos eram pesados.

Aflita, Tacenda o observou inspecionando a área do lado de fora da porta dos fundos. Ele havia ouvido — ou talvez apenas sentido — a sua música. Ela tinha que sair de vista. Ela esgueirou-se para o primeiro aposento que encontrou no segundo andar: um quarto de dormir, a julgar pelo dossel banhado pelo luar ao lado da janela.

Ela atravessou o quarto até uma porta ao lado, então entrou em um luxuoso banheiro, com uma banheira que poderia servir a uma família inteira. Ela fechou a porta, envolvendo-se em uma espécie de escuridão comum. Uma que ela quase achou acolhedora. Familiar, ao menos.

Aqui, a tensão do momento finalmente a sobrepujou. Ela sentou-se em um banquinho em meio à escuridão com o furador de gelo apoiado em seu peito, sua mão tremendo. Sua viola começou a vibrar suavemente em suas costas — e então ela percebeu que havia começado a cantarolar para tentar acalmar-se, parando abruptamente.

Em vez disso, ela tateou procurando o pingente de sua irmã, que ela havia tomado antes de entregar o corpo de Willia aos sacerdotes.

Willia confiava nos anjos. Ela sempre fora a mais forte das duas, a guerreira. Ela deveria estar viva em vez de Tacenda. Willia teria tido uma chance real de matar o Homem da Mansão.

Elas sempre contaram uma com a outra. Durante os dias, Willia encorajava Tacenda, conduzindo-a aos campos para cantar para os trabalhadores. À noite, Tacenda cantava enquanto Willia estremecia. Juntas, elas era uma só alma. E agora, Tacenda teria que tenta viver sozinha?

Vozes.

Tacenda levantou-se de forma abrupta na escuridão. Ela podia ouvir vozes aproximando-se — uma delas ríspida, autoritária. Ela conhecia aquela voz. Ela tinha ouvido-a quando o Homem da Mansão havia vindo — envolto em seu manto e máscara — reclamar a respeito de uma entrega de camisas feita por seu pai há dois meses.

Passos ressoaram nas tábuas do lado de fora, o rangido de madeira velha e cansada. Tacenda se levantou atabalhoadamente e posicionou-se logo na entrada da porta. Uma onda de pânico percorreu-a quando a porta se abriu, derramando luz no banheiro. E então…

Então paz… Era chegada a hora.

Vingança.

Ela pulou para fora das sombras e ergueu a sua arma improvisada contra o Homem: uma figura dominadora com um bigode de lápis, cabelo escuro penteado para trás e um terno preto. O furador de gelo fez um barulho satisfatório quando ela bateu com ele diretamente no lado esquerdo do seu peito, bem ao lado de sua gravata violeta. O furador moeu um osso ao penetrar profundamente.

O Homem congelou. Ela parecia ter realmente o surpreendido, a julgar pelo olhar de choque em seu rosto. Seus lábios se separaram, mas ele não se moveu.

Será que ela… será que ela teria acertado seu coração? Será que ela realmente conseguiu…

“Miss Highwater!” o Homem chamou por cima do ombro. “Há uma camponesa no meu banheiro!”

“O que ela quer?” uma voz feminina chamou de outro aposento.

“Ela me apunhalou com o que parece ser um furador de gelo!” O homem empurrou Tacenda de volta para o banheiro, depois arrancou o furador de si. O comprimento brilhava com seu sangue. “Um furador de gelo enferrujado!”

“Ótimo!”  disse a voz. “Pergunte quanto devo a ela!”

Tacenda reuniu sua coragem — sua fúria — e endireitou-se. “Vim atrás de vingança!” gritou ela. “Você deveria saber que eu viria, depois que você…”

“Ah, cale-se,” disse ele, soando mais incomodado do que com raiva. Seus olhos nublaram-se brevemente, como se estivessem se enchendo de fumaça azul.

Tacenda tentou avançar contra ele, mas se viu magicamente congelada no lugar. Ela fez força, mas não conseguiu fazer mais do que piscar um olho. Sua confiança evaporou na mesma hora. Ela sempre soube que vir aqui seria suicídio. Ela esperava obter algum tipo de vingança, mas ele nem parecia ter sentido dor pelo ferimento. Ele jogou a jaqueta sobre uma cadeira no quarto, depois cutucou a pequena seção ensanguentada de sua camisa branca de babados.

A mulher que tinha falado mais cedo finalmente entrou no quarto… e chamar aquilo de mulher seria um erro. A criatura vestia roupas humanas — uma jaqueta cinza justa sobre uma saia simples na altura do joelho — e usava os cabelos pretos em um coque. Mas ela tinha a pele acinzentada e olhos vermelhos escuros, com pequenos chifres espreitando através de seus cabelos. Outro dos servos demoníacos do Homem.

O demônio enfiou um livro sob o braço e caminhou para dar uma olhada em Tacenda. Mais uma vez, Tacenda tentou lutar, mas não conseguiu sair da postura anterior — de pé, desafiando o Homem.

“Curioso,” disse a mulher demônio. “Ela não pode ter mais que dezesseis anos. Mais nova que maioria dos seus pretensos assassinos.”

O Homem cutucou sua ferida novamente. “Parece-me, Miss Highwater, que você não está tratando esta situação com a devida gravidade que ela merece. Minha camisa está arruinada.”

“Providenciaremos outra para você.”

“Esta era a minha favorita.”

“Você tem trinta e sete exatamente iguais a esta. Você não conseguiria diferenciar umas das outras nem mesmo se a sua vida dependesse disso.”

“Essa não é a questão.” Ele hesitou. “… Trinta e sete? Isso é um pouco excessivo, mesmo para mim.”

“Você me pediu para abastecê-lo devidamente caso o alfaiate fosse devorado.” A mulher demônio gesticulou na direção da Tacenda. “O que devo fazer com a criança?”

A respiração de Tacenda ficou presa. Ela ainda conseguia respirar, embora seus olhos estivessem paralisados abertos, olhando para frente. Ela mal conseguia distinguir o Homem através da porta do banheiro quando ele se deixou cair em uma cadeira no quarto.

“Incinere-a ou algo do tipo”, disse ele apanhando um livro. “Alimente os demônios com ela, talvez. Eles têm me implorado por carne viva.”

Devorada vida?

Não imagine isso. Não pense. Tacenda tentou se concentrar em sua respiração.

A mulher demônio — Miss Highwater — encostou-se à porta do banheiro de braços cruzados. “Ela parece ter passado pelo inferno. E não necessariamente pelas partes agradáveis.”

“Existem partes agradáveis no inferno?” perguntou o Homem.

“Depende do quão quente você goste do seu magma. Olhe para aquele vestido ensanguentado, rasgado e coberto de sujeira. Não há algo nela que lhe pareça estranho?”

“Suja e ensanguentada,” disse ele. “Não é assim que os camponeses normalmente se parecem?”

Miss Highwater olhou por cima do ombro.

“Eu não acompanho as modas locais”, disse o homem da sua  cadeira. “Sei eles que gostam muito de fivelas. E colarinhos. Juro que outro dia vi um camarada com uma colarinho tão alto que seu chapéu repousava sobre ele, em vez de tocar a sua cabeça…”

“Davriel,” disse Miss Highwater. “Estou falando sério.”

“Eu também. Ele tinha fivelas em seus braços.” O Homem ergueu o braço esquerdo, gesticulando incredulamente. “Apenas envolvendo a parte superior do seu braço. Nenhum propósito. Acho que as pessoas estão preocupadas de que suas roupas escorregarão se não estiverem presas no lugar.”

Tacenda suportou o diálogo em silêncio. A conversa deles era estranha, mas também tão desdenhosa. Ela realmente não era nada além de um inconveniente para eles, não é verdade?

Ainda assim, quanto mais tempo passassem discutindo, mais demoraria para que alimentassem os demônios com Tacenda. Ela não conseguia evitar imaginar a experiência, permanecendo imóvel enquanto as criaturas brigavam por ela como fizeram com as maçãs. Até que, finalmente, começariam a banquetear-se com a sua carne —a dor aguda e real, embora ela fosse incapaz de gritar…

Respire. Apenas concentre-se em respirar.

Inspire profundamente, expire profundamente. Até mesmo os seus lábios estavam paralisados — sua língua e garganta como se fossem pedras — mas talvez… com um esforço…

Ela respirou fundo, então cantarolou uma suave — mas pura — nota sussurrada. Sua viola respondeu, as cordas vibrando em harmonia.

O Homem da Mansão ergueu-se em um movimento brusco.

Canção de Proteção. Cante a Canção de Proteção! Ela tentou, mas todo o seu esforço resultou em nada mais que um murmúrio silencioso, e não parecia incomodar o demônio ou seu mestre.

“Chame Crunchgnar,” disse o Homem finalmente. “Faremos ele amarrar a assassina e então fazê-la explicar quem a mandou aqui.”

Continua (…)

Agradecendo muito ao pessoal da mythologica, quem está fazendo esse trabalho impressionante de tradução!!

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