FALE COM MIGUXO Ep. 1 | Magic

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Publicado em 26/05/2021
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Saudações galera!

Hoje vamos fazer a famosa MAILBAG respondendo perguntas da galera. Tem alguma questão para um próximo artigo do tipo? Pode me mandar DM no Twitter @migucheras, Instagram @miguxera ou email pra [email protected].

Sem mais delongas:

Felipetagodoi: 

Como foi o seu primeiro contato com o Magic?

O meu primeiro contato com Magic não foi com as cartas em si, mas lendo sobre o jogo na revista DRAGÃO BRASIL (uma revista de RPG), eu devia ter uns 9, 10 anos. Um dia fui junto com a minha mãe para uma reunião de chefes escoteiros da região - ela estava se envolvendo com o Movimento - e eu vi uns meninos (também filhos de chefe) jogando. Imediatamente eu reconheci e pedi pra jogar com eles. Depois de alguns meses a galera da minha escola começou a jogar também, pedi um deck pra minha mãe de presente de dia das crianças e cá estamos - nunca mais parei.

Lembrando que esse deck sequer é feito pra ser jogado direto da caixa - era usado em eventos Selados, mas ainda assim 45 cartas aleatórias e 6 básicas de cada eram o suficiente pro meu eu jovem, diferente de hoje em dia que evito splashar pra não perder consistência na mana :D

Raphael Munhoz:

Como funciona o cenário competitivo de MTG Arena?

Não é uma questão muito simples, mas vamos lá:

Primeiramente, existem as ligas profissionais, promovidas pela própria Wizards: a MPL (Magic Pro League) e a Rivals que seria como uma segunda divisão da MPL. Como entrar nessas ligas? Terminando o mês no Arena dentro do top 1200 do ranking, você ganha vaga num torneio que é o Qualifier. Se mandar bem no Qualifier você ganha a vaga pro atual "Pro Tour", por exemplo o próximo será o Strixhaven Championship. Se você como amador emendar vários resultados bons seguidos você ganha uma vaga na Rivals. É fácil? Não, até hoje uma única pessoa (Chris Kvartek) conseguiu sair do total anonimato e fazer parte dessas ligas.

Existe também o cenário competitivo independente, que é organizado por terceiros que promovem torneios no MTG Arena. A nível internacional o mais conhecido é o da Starcitygames, que inclusive também dá vaga pro "Pro Tour" através de uma parceria com a Wizards. Para buscar esses torneios, recomendo usar a plataforma MTG Melee.

A nível nacional, felizmente temos uma organização incrível que é a HOME GAMING, promovendo torneios toda semana a um valor acessível. Participo quase sempre e recomendo fortemente a qualquer pessoa que queira jogar a nível competitivo. Inclusive há todo um Circuito programado pro decorrer do ano.

Edit: não existe mais a liga profissional, conforme anúncio de 13 de Maio. O jogo competitivo continua mais ainda é incerto pro futuro.

Mateus de Carvalho:

Quando você não estuda a coleção antes existe um modelo base que segue? Tipo x criaturas, x magicas?

Digamos que eu sempre estudo a coleção haha, então nunca cheguei a pensar nesse modelo. Se eu por acaso fosse jogar um draft às cegas hoje, acho que o fundamento mais importante pra se seguir quando não se entende o formato é o CABS: Cards que Afetam o Board State. Em suma, eu quero criaturas (16 ou mais), distribuídas numa curva razoável e agressiva, com vários drops de 2 (uns seis pelo menos), remoções e tricks. O meu plano vai ser curvar, ter o controle da mesa e atacar. Qualquer coisa mais complexa que isso requer um conhecimento da edição pra dar certo.

Ramonkhet:

Como Eldraine cagou o standard por 2 anos?

Seria Eldraine a edição mais polêmica de todos os tempos? Provavelmente não. Já a mais polêmica desde o lançamento do MTG Arena, com certeza. Querido Ramon, o que eu vejo que aconteceu: jogadores queriam um powerlevel mais alto. A Wizards tentou atender esse pedido mas errou a mão. Por outro lado, podemos ver que qualquer edição que saiu depois de Eldraine é vista como mais fraca, e acho que essa tendência vai se manter por um tempo. A questão é, como você apontou, ela vale no Standard por dois anos, naturalmente ofuscando o que veio depois.

Nos últimos dias tenho visto umas conversas tortas Twitter afora, como se deviam banir Edgewall Innkeeper e Bonecrusher Giant // Stomp, ou rotacionar Eldraine antes da hora, e eu acho que tudo isso é nonsense e que não, Eldraine não cagou o standard. A realidade é que desde o ban do Omnath, Locus da Criação o formato está em sua forma mais diversa desde - antes de Eldraine?

Por fim, vocês lembram do standard pós-ban do Oko, Ladrão de Coroas, pré-lançamento de Ikoria? Tivemos alguns meses em que o formato era cheio de cartas "quebradas" como Fires of Invention, Wilderness Reclamation, Uro, Titan of Nature's Wrath e Cauldron Familiar e todas coexistiam em perfeita harmonia. Por isso acho que essas questões sempre são mais delicadas do que parecem a primeira vista.

Devolvendo a pergunta aos leitores: como Gideon, Ally of Zendikar cagou o standard por dois anos? O que é preferível, um formato cheio de cartas fortes ou um formato em que as cartas são tão medíocres que qualquer coisa um pouco acima da curva já se torna opressora?

Rudá dos Reis

My angel, existem situações no draft de STRIX em que começar na draw é melhor?

Creio que não. Qual o maior motivo pra escolher começar na draw? Estar numa partida em que a carta extra importa. Em Strixhaven, todos os decks tem tanta card advantage embutida através de Learn/Lesson que o impacto desse card a mais é muito menor. E é tão mais fácil fazer uso do seu card advantage quando você tem o controle da mesa, o que é mais fácil de conseguir começando a partida.

HellBellMTG

Migucheras, qual seu racional para transição para o draft tradicional? Ja tentei algumas vezes mas fui muito penalizado em recursos e o Premier está mais sustentável no meu caso. Para rank abaixo de platinum acredita que faz mais sentido BO1 por mais chances de piores oponentes?

A princípio comecei a jogar draft Tradicional em Kaldheim porque estava tendo um EV ruim no Premier - cheguei a ficar sem recursos no jogo, tendo que colocar dinheiro em gemas pra continuar fazendo as lives. Em pouco tempo percebi que o ritmo era bem mais tranquilo, sem ser curvado sem falha todo jogo, o que permitia explorar mais as possibilidades dentro dos arquétipos da edição e observar interações mais variadas. Depois disso meu saldo em gemas também só começou a subir, dos 9k que consegui com dólares já tenho em torno de 40k hoje.

Como falei no Twitter, a partir dessa thread do grande Sierkovitz, creio que a melhor estratégia para edições futuras seja começar a jogar Draft no Tradicional para melhor aprender a parte dos picks sem sofrer muito com os recursos. Depois, quando já se sentir confortável no formato, migrar para o Premier em busca do rank Mítico para aprimorar a gameplay, garantindo que vá enfrentar as melhores jogadoras devido ao aspecto ranqueado.

"Ah mas eu tive mais facilidade em garantir 3 wins no Bo1 do que 2 wins no Bo3". Por outro lado, é mais fácil garantir 3 wins no bo3 do que 7 wins no bo1. E duplamente lucrativo. Basta não ter medo já que estamos falando de moedinhas imaginárias, não dólares de verdade como no MTGO.

Vicprado

Tem “melhor cor” em draft num aspecto geral?

Essa pergunta é um meme da live. Colando diretamente a resposta do bot, "Não existe melhor cor my angel, você tem que draftar do jeito difícil. A melhor cor é a que estiver aberta". Em geral, sim, cada formato tem uma cor que se destaca, mas não dá pra esquecer que o Draft se corrige. Se eu e as outras sete pessoas da mesa sabemos que X é a melhor cor e tentarmos jogar de X, a melhor coisa que posso fazer pode ser evitar X e jogar de Y que não é tão visada. Por exemplo em Kaldheim: Verde é a melhor cor, mas Branco não é muito pior, e subestimada o suficiente para estar quase sempre aberta. Os arquétipos que mais joguei no formato? Boros e Selesnya.

Coalness

Quais são as picks mais importantes de um draft?

Essa é uma questão que mesmo que tivesse uma resposta correta não seria super útil - e mais uma vez, depende de qual edição estamos falando. Em M21 por exemplo acho que os picks mais importantes eram os primeiros. Já que o power level era tão baixo, era importante estabelecer o seu espaço em termos de arquétipo no começo pra colher as recompensas depois. Em Strixhaven vemos algo no sentido contrário: os primeiros picks são aqueles que você deve se dispor a abandonar se necessário, porque se tiver sucesso em encontrar a escola aberta vão chover cartas fortes no último pack.

Diego

Meu caro Migucheras, você sempre explica que draft é um processo de aprendizagem. Eu acompanho os seus vídeos e análises de apoio e tenho bons resultados, porém sempre fico muito nervoso/ansioso tanto na hora de escolher as cartas quanto jogando. Quando você não teve mais essas sensações? Tem algum conselho?

É meio contraditório falar que a forma de melhorar no jogo é não se importar com ele de forma alguma, porque se eu não me importasse sequer estaria streamando, escrevendo sobre, enfim, mas eu acho que passa por isso. Se Draft é uma atividade de longo prazo, não é uma derrota ou vitória específica que vai importar ao final de tudo, não mais do que qualquer pequena gota de aprendizado que aquela partida lhe trouxe e que vai compor o seu mar de experiências. 

Existe a parte que você pode controlar, que é o seu processo de decisão. E a parte que você não pode controlar, que é o resultado da partida. Se nos abstrairmos dessa segunda parte, não há mais motivo para ansiedade, concorda? Esse é o meu conselho, você pode também ouvir esse excelente podcast com o sensacional Patrick Fernandes que fala bastante sobre essa questão do jogo mental. 

Zé Doidim

Como é ser declaradamente de esquerda dentro da comunidade do Magic? Você percebe barreiras por conta disso? Quando você se radicalizou e como foi?

Primeiramente eu devo reconhecer que tenho um enorme privilégio em relação a outras criadoras de conteúdo, que é o fato de eu não depender do meu conteúdo pra viver e pagar minhas contas. Graças a isso posso me manifestar como bem entender. Especialmente nessa época trevosa em que vivemos eu acho que não dá pra ficar em silêncio e não se posicionar. Quando se tem uma voz, por pequena que seja, é importante garantir que ela seja usada pra algo positivo - sinto que é o mínimo que posso fazer.

Isso aliena uma parte do público - "ai eu vim pra ver Magic e não política" - mas por outro lado as pessoas que têm essa consciência fazem questão de voltar. E já me fez arrumar treta em grupo de WhatsApp, já que a figura mediana que tem voz nesses espaços é um sujeito reacionário. Hoje em dia eu não tenho energia pra me manifestar num espaço que não seja minha própria live.

A minha consciência começou em 2016, quando consegui o meu primeiro "emprego tranquilo" na vida - telefonista de um Hemocentro, o que me permitia ficar sentado no computador lendo o que quisesse durante meu tempo livre. Eu já tinha uma afinidade com os ideais de esquerda, mas ainda dentro de um viés de esquerda liberal. Foi durante o processo de golpe na presidenta Dilma que me aprofundei na noção de que nós, pessoas trabalhadoras, só podemos prosperar dentro de uma construção coletiva.

Eu acredito na noção de que sempre dá pra se aprender mais, e também as vezes me culpo por não achar que esteja fazendo o suficiente dentro do possível pra mim. Enfim, eu acho que a nossa luta política é indissociável da nossa vida pessoal. Como uma pessoa pobre que conseguiu melhorar um pouco na vida (devido a muita sorte), eu quero que outras pessoas também melhorem. E que meu filho de 3 anos viva num mundo melhor do que o que vivi. Parafraseando a gigante Angela Davis, "Sim, eu sou comunista e considero isso um das maiores honras, porque estamos lutando pela libertação total da raça humana".

 

Deixo um enorme agradecimento a quem leu e à MypCards por disponibilizar o espaço. Peço desculpas pelo vasto intervalo entre vocês enviarem suas perguntas e verem as respostas - os últimos dias tem sido bem difíceis. Vocês encontram meu conteúdo na Twitch e YouTube. Muito obrigado pela atenção e até o próximo post!

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